AUTISMO E A SAÚDE MENTAL DAS MÃES

Embora os avanços na identificação e inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) sejam notáveis, pouco se fala sobre a saúde mental das mães que vivem essa realidade. Este texto lança um olhar sensível e necessário sobre os desafios emocionais, sociais e estruturais enfrentados por essas mulheres, que muitas vezes silenciam suas dores em meio à luta diária por cuidado, diagnóstico e inclusão de seus filhos. Uma reflexão profunda sobre a importância de redes de apoio e da empatia coletiva.

Nos últimos anos, surgiram vários estudos, metodologias e processos para a identificação, inclusão e defesa dos direitos das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Porém, pouco tem se falado dos pais de filhos autistas, em especial, das mães. As mães conhecem o misto de emoções, alegrias e preocupações que passam a dominar os pensamentos e a vida a partir da confirmação da gravidez.

Durante a gestação, são feitos vários exames que podem, por vezes, identificar previamente uma característica que demande determinado cuidado. Contudo, com o autismo não é possível essa prévia detecção. Ou seja, não existe um “preparo”, a criança nasce e, após alguns meses/anos, na maioria das vezes, é a mãe que percebe algo “diferente”.
E novamente ocorre uma invasão de sentimentos e preocupações. É comum, é normal, que os pais apresentem sentimentos negativos, de resistência diante da circunstância apresentada. Esse misto de sensações e pensamentos possui vários estágios, dentre eles, podemos citar alguns: negação, raiva, culpa, início da aceitação e a busca por soluções.
Mas é incontestável que existe a fase do choque, diante do novo, do inesperado. A busca por um culpado, um motivo, o choro, a negação, a sensação de desamparo… É colocado diante dessa mãe, desse pai, dessa criança, dessa família, um futuro imprevisível.

Não são raras as situações em que as mães, mergulhadas em sua dor e preocupação, se isolam, com receio de julgamentos, críticas e exclusão. Esse caminho pode levar algumas famílias a se adaptarem de forma positiva diante da nova realidade, mas, na maioria das vezes, acontece a fragilização familiar.

E, nesse caminho, ainda existe a dificuldade para obter um atendimento clínico adequado e a confirmação do diagnóstico, o que torna esse percurso uma verdadeira peregrinação. Existe uma nova realidade, onde as pessoas da família terão que assumir novos papéis. E a mãe, sem sombra de dúvida, exerce o papel central nesse novo contexto. É óbvio que o pai exerce um papel fundamental e indispensável para o desenvolvimento da criança e da família, principalmente nos dias atuais, com quebras de paradigmas, onde vemos os pais realmente envolvidos e protagonistas.

Mas o fato é que a mãe é quem tem o primeiro contato com as características diferentes da criança; é a mãe que tem o sinal de alerta acionado; é a mãe, na maior parte dos casos, quem tem sua vida profissional, afetiva e social suspensas. Nesse contexto, ela tem que traçar um novo futuro para a sua vida e para a sua criança.

É a mãe que vai enfrentar as consultas, as terapias, a adaptação da criança na escola, as inúmeras e longas burocracias para tratamento e para buscar seus direitos e auxílio financeiro, administrar as medicações quando necessárias, enfrentar e dirigir as reações da criança no dia a dia, e ainda enfrentar o isolamento e os julgamentos. É uma verdadeira indefinição do futuro. É o início da construção de cuidados com uma criança autista. É a colisão da expectativa com a realidade. Trata-se de uma verdadeira ressignificação, uma imersão em um novo mundo. Todos esses fatores ocasionam o desgaste físico e emocional.

Diante dos enfrentamentos diários, essas mães, não raras vezes, se encontram em níveis elevados de depressão e ansiedade. Nesse sentido, são imperativas ações no sentido de implementar redes de apoio para essas mães, como medidas preventivas. As redes de apoio social, governamental e familiar são indispensáveis, no intuito de amenizar as inquietudes e incertezas.

É imperioso à sociedade, como um todo, fazer uma reflexão sobre a realidade e os fatores envolvidos no cotidiano dessas famílias. Devemos olhar para essas mães que buscam incansavelmente as melhores alternativas para proporcionar um melhor desenvolvimento para a sua criança. Que acordam todos os dias, no automático, fazendo o que deve ser feito. Sem tempo para indagações ou autopiedade, elas têm uma criança que depende inteiramente delas, e elas têm que ser fortes. Não é errado olhar com todo o cuidado e afeto para essas crianças, mas e as mães?! Elas, que são o alicerce, como ficam?!

Devemos, sim, ter a certeza de que são “heroínas”, mas não é um conto de fadas, e, mesmo em silêncio, elas gritam por ajuda e amor.

Todo o conteúdo deste artigo é de responsabilidade da autora, Viviane Marinho. Agradecemos pela sua contribuição e perspectiva.

Clique neste link para entrar em contato com a autora deste artigo, Viviane Marinho.

plugins premium WordPress

Menu

Newsletter

Inscreva-se em nossa newsletter